27.5.11

Outra critica à obra - Manoel Neves

Lira dos Vinte Anos, único texto que o poeta preparou para a publicação, foi editado postumamente, em 1853, apresente claramente duas faces: a primeira e a terceira partes mostram um Álvares de Azevedo suave, ingênuo, sentimental, elegíaco. É o que Antonio Candido chamou de a face de Ariel. A segunda parte mostra um poeta macabro, satírico e sarcástico, constituindo o que o citado critico chama de a face de Caliban. Nela, uma veia humorística submete as próprias obsessões do romantismo brasileiro a desmistificação prosaicas, num exemplo nacional de ironia romântica. O poeta sensível e recatado da primeira parte dá lugar a um poeta cínico e irreverente, que desfaz o mundo de sonhos e fantasias das outras partes da obra. Essas duas facetas da poética de Álvares de Azevedo exprimem os dois modos fundamentais que o poeta romântico alemão Schiller apontou como espécies da poesia sentimental moderna: o patético e o satírico. Ao primeiro, cabe avocar o real distante; e, ao segundo, agredir o real presente.

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